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Conto: Questões

Atualizado: 29 de set. de 2021



Olhar o reflexo que se fixa diante de você agora, se assemelha a encarar de quase tão perto, a ponto de quase tocar, os fantasmas que dançam dessincronizados em sua mente. Quase como se conseguisse encarar sua alma, se um dia pudesse realmente se conhecer e ter a certeza de ter uma. O todo que lhe compõe nunca espalhar-se-á sobre a mesa, e, mesmo que o fizesse, deveria de lhe agarrar pelos ombros e lhe colar a fronte para que você enfim, lhe pudesse enxergar.

Costumam dizer que essa é a melhor parte, você pensa. Todas as vozes que, juntas, formariam facilmente, uma sinfonia. "Viva enquanto é jovem e livre", mas nenhuma desses conceitos é capaz de ressoar em seu ser. Decidir qual dessas premissas é mais inconcebível para lhe descrever é algo capaz de deixá-lo acordado até a madrugada do dia seguinte. "Há memória em mim de um tempo em que tenha sido jovem?" O que é ser criança? Consegue lembrar-se da sineta da bicicleta nos dias em que apostava corrida ao ar livre, nas ruas, com seus irmãos? Ou nunca deixou de sê-la? Criança, sozinha, em um apartamento maior do que qualquer um precisaria. Quem vai acender a luz do banheiro? A mentira, o falso conforto que sempre foi tão bom poder contar.

O reflexo de seus ideais nos seus discos, nas linhas que descem dos seus olhos agora, contam uma história diferente. A miragem no espelho gargalha em meio a luminosidade, parece odiar-lhe. Ou e você que o odeia? Isso é ser livre? A ferrugem das cordas, os calos, os cigarros, a boemia. A visão periférica que você tem da vida. Quando você encara as questões por tempo demais, elas te encaram de volta.


Por Camila Machado

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