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Ensaio: O que nos faz feministas?

Atualizado: 29 de set. de 2021


“Algumas pessoas perguntam: ‘por que a palavra feminista? Por que não dizer que você acredita em direitos humanos, ou algo parecido?’. Porque isso seria desonesto. Feminismo é, claro, parte dos direitos humanos em geral – mas utilizar uma expressão tão vaga como ‘direitos humanos’ seria negar o problema específico do gênero. Seria um jeito de fingir que não foram as mulheres que foram, por séculos, excluídas. Seria um jeito de negar que o problema de gênero tem como alvo as mulheres. Que o problema não é sobre ser humano, mas especificamente sobre ser uma mulher. Por séculos, o mundo dividiu os seres humanos em dois grupos e então excluíram e oprimiram um grupo. É justo que a solução para o problema leve isso em consideração”.

Chimamanda Ngozi Adichie, em seu discurso "Sejamos Todos Feministas"


No dia 12 de abril, a autora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie profere seu discurso para uma plateia que a acompanha fielmente com os olhos e presta a devida atenção ao seu menor movimento, mas nem sempre foi assim. Chimamanda, mudou-se para os Estados Unidos quando tinha apenas dezenove anos, e como mulher, negra e nigeriana sofreu muito até conseguir lugar de destaque e ter sua voz ouvida por tantos. A autora conta, que desde muito cedo se descobriu feminista, antes mesmo de compreender por completo o significado e a carga que a palavra carregava consigo. Chimamanda luta contra um movimento que promove o apagamento da mulher como pessoa na sociedade.

Mas o que é ser feminista? Para compreendermos o termo, precisamos buscá-lo em suas raízes. Na época do Brasil-Colônia (1500-1820), as mulheres eram propriedade de seus pais, maridos, irmãos, ou quaisquer que fossem os chefes de suas casas. O patriarcado imperava, mas as mulheres passaram a lutar por seus direitos de voto, de ir e vir, direito ao divórcio e livre acesso ao mercado de trabalho. Quando finalmente conseguiram o direito de trabalhar, as jornadas de quinze horas por dia aliados aos salários medíocres, levaram as mulheres a greves para reinvindicação de melhores condições de trabalho e ao fim do trabalho infantil que também era comum nas fábricas nesse período.

Em maio de 1908, nos Estados Unidos, cerca de 1500 mulheres aderiram a uma manifestação em prol da igualdade econômica política no país, e esse foi o primeiro Dia Nacional da Mulher. Até março de 1917, quando na então Rússia, aproximadamente 90 mil operárias manifestaram-se contra Czar Nicolau II as más condições de trabalho, a fome e a participação russa na guerra, então a data foi reconhecida como Dia Internacional da Mulher.

"O 8 de março deve ser visto como momento de mobilização para a conquista de direitos e para discutir as discriminações e violências morais, físicas e sexuais ainda sofridas pelas mulheres, impedindo que retrocessos ameacem o que já foi alcançado em diversos países"

Como explica a professora Maria Célia Orlato Selem, mestre em Estudos Feministas pela Universidade de Brasília e doutoranda em História Cultural pela Universidade de Campinas (Unicamp). O feminismo por definição é a crença de que homens e mulheres devem ter direitos e oportunidades iguais. Trata-se da teoria da igualdade política, econômica e social entre os sexos. A atriz Emma Watson, foi indicada como Embaixadora da Boa Vontade da ONU Mulheres e em seu discurso pedindo apoio à campanha #HeForShe, ela conta que começou a questionar as teorias baseadas em gênero desde muito nova. Ela relembra “Quando eu tinha 8 anos fiquei confusa ao ser chamada de mandona porque eu queria dirigir as peças que iríamos apresentar aos nossos pais, mas os meninos não eram chamados assim. Aos 14, comecei a ser sexualizada pela mídia. Com 15 anos, minhas amigas começaram a largar os esportes que elas amavam praticar porque não queriam parecer masculinas. Aos 18 anos, quando meus amigos homens não eram capazes de expressar seus sentimentos, eu decidi que eu era feminista e isso não me parecia complicado. Recentemente, porém, eu venho descobrindo que a palavra feminista vem se tornando impopular. Muitas mulheres decidem não se identificar como feministas porque as opiniões podem parecer muito fortes, muito agressivas, isoladoras e contra os homens. Até mesmo pouco atraentes. Sou britânica e acredito que mereço ser paga com o mesmo salário que meus colegas homens. Acredito que é meu direito, poder tomar decisões sobre o meu próprio corpo.”


Então o que o movimento feminista busca?


Apesar das já muitas conquistas, que muitas vezes passam despercebidas, como por exemplo o direito ao voto, o direito de casar-se com quem bem intende, o direito de assistir aulas em universidades e instituições de educação, quando mulheres como Maria Goeppert Mayer que propôs um novo modelo envoltório do núcleo atômico era considerada uma mera voluntária dentro da Universidade de Chicago e não era remunerada pelos seus serviços. Mas isso, depois de ouvir muitos discursos de seu marido Joseph Edward Mayer, escondida atrás de sua mesa dentro da sala. Com certeza, não valorizamos a luta de mulheres como Goeppert Mayer, Marrie Currie e Lise Meitner, que lutaram tanto pelo espaço que temos dentro das salas de aula, mas ainda temos muito a conquistar. O movimento feminista visa dar luz a causas como: o fim da violência contra a mulher, a diferença salarial entre gêneros, pouca inserção feminina no meio político, casos de assédio e preconceito contra a mulher, necessidade de exames preventivos e maior informação, acesso a métodos contraceptivos gratuitos e amamentação em lugares públicos. Uma grande parte do movimento feminista luta também pela descriminalização do aborto, entendendo que muitas mulheres perdem a vida, submetendo-se a procedimentos clandestinos executados por pessoas que poucas vezes possuem formação profissional adequada para realizá-los.

Nenhum país ainda, infelizmente, pode dizer que alcançou a igualdade de gênero. Em muitos países, crianças são menos amadas porque nasceram mulheres, escolas limitam alunas e professores acreditam que elas não podem ir tão longe, simplesmente porque são meninas, empregadores não contratam mulheres porque elas podem vir a dar à luz um dia. Emma Watson continua seu discurso da ONU Mulheres falando sobre a nomenclatura do movimento, "Se você ainda odeia a palavra, não é a palavra que importa. O que importa é a ideia e a ambição por trás dela." "Em 1997, Hilary Clinton proferiu em Pequim, um famoso discurso sobre os direitos das mulheres. Infelizmente, muito do que ela queria mudar, ainda é uma realidade hoje em dia, mas o que mais me chamou a atenção foi que menos de 30% da audiência era masculina. Como podemos realizar uma mudança no mundo quando apenas metade dele é convidada ou se sente à vontade para participar da conversa?"

A igualdade de gênero também precisa ser debatida por homens, porque precisamos combater estereótipos que não fazem bem a ambos homens e mulheres. Quando os pais educam homens e mulheres dentro de caixas onde eles só podem ser o que pode caber ali dentro. Quando esperam que os meninos não chorem, ou nunca demonstrem suas fraquezas, ou que não expressem demasiado sentimentalismo porque isso pode fazer deles menos másculos ou menos homens, quando esperam um tipo de comportamento tão desumano dos rapazes, isso faz com que cresçam reprimidos, o que pode levar ao suicídio na vida adulta. Tanto homens quanto mulheres devem se sentir livres para sentir e ser o que quiserem, sem expectativas sobre eles apenas pelo seu gênero. Nossos filhos devem ser livres, vulneráveis e fortes porque é assim que os seres humanos são.


O que podemos fazer para mudar?


Se ainda há tanto a se fazer em busca da igualdade de gêneros, como podemos ajudar a acelerar o processo? A Juliana de Faria é uma das pessoas que está fazendo sua parte nessa caminhada. Ela é dona do site “Chega de Fiu Fiu”, onde mulheres podem reportar casos de assédios que aconteceram com elas e como o caso foi ou não resolvido, e há ainda, um mapa onde as mulheres conseguem indicar exatamente onde essas histórias aconteceram. Juliana é jornalista e decidiu criar a página “Chega de Fiu Fiu – Cantada não é elogio”, porque desde criança sofre por sentir que tem seu espaço e seu corpo invadido; “Demorou para entender que o assédio que sofremos não é algo pessoal, e sim, político” conta a jornalista em uma entrevista à revista Vogue. É extremamente importante que não nos calemos diante de situações tão problemáticas e que durante muito tempo foram vistas como corriqueiras. Assim como relata Juliana “Isso não é normal, e é importante dar nome as coisas. Um homem que abusa é um abusador, um que mata a mulher por ciúmes é um assassino e não um passional”.

Precisamos falar sobre como o assédio, o machismo, a violência é nociva, porque, citando a ativista americana Gloria Steinem ‘quando era criança não existia violência doméstica, isso era chamado de vida.’”


Por Camila Machado

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